A história da abelhinha em 7 capítulos - Método misto de Alfazetização de Almira Sampaio


HISTÓRIA DA ABELHINHA
  
        Era uma vez uma abelhinha que nasceu com uma asa só. Ela não podia voar nem um pouquinho,
por isso, ela vivia suspirando assim: a... a...
        A abelhinha tinha tanta vontade de voar... Se ela pudesse voar, quantas coisas maravilhosas haveria de fazer!
        A abelhinha contava tudo o que pensava a uma escova, amiga dela.
        A escova era mágica, mas a abelhinha não sabia.
        Um dia, a escova encantada disse à abelhinha:
        - Querida abelhinha, você ainda há de ter asas deste lado também. Espere com paciência, minha amiga!
        A escova mágica explicou: Eu sou uma escova mágica. Posso fazer muita coisa boa.
        A abelhinha ficou muito feliz e pensativa. Toda vez que a escova via a abelhinha pensando, dizia com uma voz rouca e misteriosa: e... e...
        Todas as manhãs a abelhinha costumava brincar perto de um mato muito alto.
        Uma vez, ela viu as folhas do mato se mexerem. E, no mesmo instante, escutou um barulhinho assim: i... i... i...
        A abelhinha olhou para um lado, olhou para outro, e nada viu... começou a sentir um pouquinho de medo.
        Nisso saiu do mato um pequeno índio, todo enfeitado de penas.
        A abelhinha, muito espantada perguntou:
        - Foi você quem fez aquele barulhinho, foi?
    - Eu mesmo! Por quê?
        - Porque eu estava com medo. Mas agora já passou. Quer ser meu amigo, indiozinho?
        Sim, falou o pequeno índio.
        Então, os dois combinaram uma porção de brincadeiras.
        Uma tarde, a abelhinha e o índio brincavam no quintal de uma casa grande. A abelhinha viu no chão uma coisa muito esquisita. Olhou... olhou... Nunca tinha visto aquilo.
        A abelhinha resolveu perguntar:
        - Como é o seu nome?
        Mas a tal coisa esquisita só fez um barulhinho assim: “o”... “o”...
        Foi aí que a abelhinha viu que a tal coisa era uns óculos quebrados.
        Com muita pena, ela indagou:
        - O que foi que aconteceu com você, amigo óculos?
        Os óculos não disseram uma palavra.
        Então a abelhinha achou que os óculos estavam precisando de ajuda.
        - Eu vou ajudar você, ouviu? Vou pedir à minha amiga, escova mágica, que conserte você.
        O indiozinho apanhou os óculos e foram juntos até a casa da escova mágica.
        Eles iam andando, quando de repente viram junto de uma árvore surgir um ursinho, que quis fazer logo uma brincadeira com eles. Escondeu-se atrás da árvore e, para assustar os amigos, ele fez assim: u... u...
        Já estava ficando noite.
        Bem – falou a abelhinha – acho que hoje vou dormir aqui mesmo. Posso? E sem esperar resposta, deitou-se no meio dos pêlos da escova encantada. E logo tirou um soninho.
        De repente, a abelhinha acordou e começou a gritar:
        - Socorro! Socorro! Socorro! Por favor, me acudam.
        - Que é que aconteceu com você? – perguntou o ursinho.
        A abelhinha respondeu com voz de choro:
        - A escova mágica está pegando fogo!
        Não é fogo não abelhinha! É um bichinho que tem uma luz... parece até uma lanterninha! Ele também está com medo.
        A escova encantada sacudiu os pêlos, e o bichinho saiu voando.
        - Como é seu nome? – Quis saber a abelhinha.
        O bichinho, muito afobado, só conseguiu fazer um barulhinho assim: v... v...
        E mais uma vez a escova mágica explicou:
        - O som que vocês escutaram, meus amigos, veio dessa flor aí. Qualquer um que sacuda as pétalas dessa dália, pronto: a gente ouve logo esse barulhinho.
        O vaga-lume falou assim:
        - Eu estava voando lá no meio da mata. Nisso me assustei com os olhos de um lobo. Pareciam duas velas acesas andando de um lado para o outro na escuridão da noite. Logo depois escutei um uivo diferente. Quase morri de medo!
        A abelhinha não se conteve e perguntou:
        - E como era esse uivo, heim?
- Não sou capaz de repetir – respondeu o vaga-lume. – Já experimentei muitas vezes, mas não consegui.
        A escova explicou tudo:
        - O lobo caiu numa armadilha. O laço apertou demais o pescoço dele. Por isso o uivo saiu diferente. Vocês querem saber como foi o uivo?
        A escova repetiu três vezes a palavra mágica: “quadiduvivu”.
        Todos escutaram o uivo abafado de um lobo. Era um uivo assim: l... l...
        A abelhinha quis logo saber:
        - E depois, que aconteceu?
        - Tratei de fugir depressa; e acabei perdido no meio da mata.
        - E depois? – perguntou o pequeno índio.
        - Depois continuei voando. Voei, voei... Fiquei tão cansado que caí no chão. E que é que havia de aparecer na minha frente? Uma minhoca! Uma minhoca comprida, muito vagarosa; cheia de requebros, cheia de dengos... Uma simpatia de minhoca! Ela chegou até junto de meu ouvido e começou a fazer um barulhinho engraçado. Eu acho que ela ia me contar algum segredo! Mas não entendi nada. Ah, se eu pudesse descobrir o que a minhoca queria dizer...
        Naquela hora a abelhinha, o pequeno índio e o ursinho olharam para a escova encantada. Ela adivinhou o pensamento de seus amigos e disse de novo, três vezes: “quadiduvivu”.
       Mal acabou de falar a palavra mágica, saiu do chão uma fumacinha muito branca, que foi subindo. Por fim desapareceu no ar.
        E, naquele mesmo lugar, todos viram, de repente, a minhoca aparecer. A minhoca se requebrando toda, começou logo a fazer um som engraçado, assim: m... m...
        Um dia a abelhinha viu lá no céu, uma pipa balançando pra lá, pra cá. Quando o vento batia na pipa com força, ela fazia um barulhinho assim: p... p...
        A abelhinha estava tão distraída ouvindo o barulhinho, que não viu o gato Golias chegar.
        - Abelhinha, que é que você está fazendo? Perguntou o gato, muito curioso.
- Ah, eu estou sonhando, amigo Golias... Sabe com o quê? Com as asas que vou ganhar deste lado. Quando isto acontecer eu poderei... voar! A escova mágica me prometeu ajuda, mas disse que eu tenho que esperar.
O gato, para alegrar a abelhinha, perguntou:
        - Você quer dar um passeio lá onde está a pipa?
        - Quero, sim! – respondeu ela bem depressa.
        Então o gato puxou a pipa. A abelhinha segurou-se nela e a pipa subiu outra vez.
        Golias prendeu a linha da pipa numa pedra e foi tirar uma soneca. Logo depois, o gato roncava fazendo um barulhinho assim: g... g...
        Perto dali, no buraco de um velho tronco, vivia escondido Roque-Roque.
        Roque-Roque era um rato levado. Ele tinha escutado a conversa do gato e da abelhinha, e achou que podia divertir-se à custa do bichano.
        Brincar com a abelhinha não dava, pois ela estava lá no alto, passeando na pipa... Mas o gato Golias estava dormindo logo ali, bem perto. Bastava uma corridinha e pronto!
        Sem fazer barulho, para não acordar o bichano, Roque-Roque saiu do buraco. Deu um puxão na cauda do Golias e quis voltar depressa para casa. Mas não conseguiu. Ficou tão atrapalhado que começou a fazer um barulhinho assim: r... r...
        O gato Golias ainda dormia quando Roque-Roque aproveitou a ocasião para nova brincadeira: deu um peteleco nas orelhas do bichano e fez cócegas no focinho dele.
        Depois procurou um lugar para se esconder. Não queria medir forças com o gato Golias, não! O ratinho não era bobo.
        Escondeu-se atrás de uma pedra e lá ficou muito quietinho. Mas agora Golias estava bem acordado. Golias saiu miando com raiva, querendo descobrir quem tinha mexido com ele. E assim a pipa ficou abandonada, balançando de um lado para outro.
        A força do vento foi aumentando, até que a linha da pipa arrebentou. A pipa, levada pela ventania, acabou ficando presa no alto de uma torre.
        O vento soprava cada vez mais forte! E como batia na torre... E como batia na pipa!
E como sacudia a abelhinha!...
        De vez em quando, por causa da força do vento, a torre parecia que estava fazendo um barulhinho assim: t... t...
        Num dia de sol bem quente, a abelhinha estava com muita sede. Então a abelhinha entrou numa casa e viu, em cima do fogão, um bule. E pensou: Talvez eu ache água para beber nesse bule.
        A abelhinha chegou mais perto. Parecia que o bule estava resmungando.
        Ela ouviu um barulhinho assim: b... b...
        A abelhinha começou a pensar: Ué! Que coisa engraçada! Um bule resmungando... Não pode ser. Bobagem! Com certeza eu é que não ouvi direito. Vou prestar mais atenção.
        A abelhinha olhou de novo para o bule. Aí, ela compreendeu tudo: a água estava fervendo e a tampa do bule é que fazia barulho.
        Água fervendo! Não vou beber, não! Pensou a abelhinha. Vou matar a minha sede em outro lugar.
        A abelhinha bebeu água na pia.
        A abelhinha foi até a janela, olhou para fora e viu, perto da lagoa, um sapo de olhos esbugalhados. O sapo espiava um papel que estava no chão. Depois fechava os olhos, punha a língua de fora, balançava a cabeça devagarinho e fazia assim: s... s...
        A abelhinha não conseguia entender o misterioso sapo, nem por que ele fazia tantas caretas.
        E não foi só a abelhinha que não entendeu as caretas do sapo.
        Um jacaré, que morava na lagoa, achou também o sapo esquisito. E perguntou:
        - Por que é que você olha tanto para esse papel, amigo sapo? Por que sacode a cabeça? Por que é que está fazendo esse barulhinho?
        O sapo fingiu não ter ouvido nada. Há muito tempo ele queria dar uma lição no jacaré, que era muito misterioso.
        Morrendo de curiosidade, o jacaré aproximou-se do sapo.
        Foi aí que o sapo, ligeiro como um raio virou para baixo a folha de papel e perguntou:
        Você já viu esta figura? Na mesma hora o jacaré balançou a cabeça dizendo sim.
        Você viu mesmo, amigo jacaré?
        Um pouco envergonhado por ter falado uma mentira, o jacaré fez apenas um barulhinho assim: j... j...
        O sapo fingiu que não estava reparando na atrapalhação do jacaré. E fazia uma pergunta atrás da outra:
        Você já falou com ele?
        J... Foi só o que o jacaré disse.
        Ah! Agora tenho certeza: você está mentindo! Gritou o sapo com pose de vencedor. – Como você pode ter falado com ele, jacaré, se ele nem sabe falar...
        Rindo muito, mostrou a figura ao mentiroso...
        Aí, o jacaré ficou sem jeito mesmo. Deu uma corrida e tchibum! Mergulhou bem depressa na lagoa.
        O sapo foi embora pulando, todo contente, e deixou o papel no chão.
        A abelhinha resolveu ver de perto a figura que estava no papel. Ela queria saber o que era gordinho, sem dentes e não sabia falar.
        A figura nada mais era do que o retrato de um neném, o netinho de dona Júlia.
        A abelhinha achou que devia levar o retrato para casa da vovó. Mas como o retrato era grande e pesado!
        Sozinha ela não ia agüentar. Pensou em pedir ajuda ao vaga-lume.
        No mesmo instante o vaga-lume apareceu e foi logo ajudar a abelhinha. Chamou mais alguns vaga-lumes para levarem, juntos, o retrato do neném à casa da vovó.
        Quando já iam saindo, a abelhinha reclamou:
        Esperem, esperem! E eu? Vocês se esquecerem de mim? Ou não sabem que eu também quero ir?
        E os vaga-lumes responderam: Você também vai, abelhinha! Suba logo no retrato, pois já está anoitecendo e temos que ir embora.
        Os vaga-lumes voaram pelo céu afora. Voaram... Voaram... De vez em quando, acendiam as lanterninhas para iluminar a escuridão da noite.
        Por fim, chegaram à casa da vovó. Entraram no quarto do neném. Ele brincava sozinho, na cama. Viu os vaga-lumes e gostou das luzinhas deles. Mas como não sabia falar, o neném começou a fazer assim: n... n...
        Os vaga-lumes não compreenderam o que o neném queria dizer.
        Os vaga-lumes foram procurar a vovó, na sala de jantar.
        A vovó estava preparando torradas. Ela cortava as fatias de pão com muita dificuldade, porque a faca estava cega.
        Todas as vezes que a faca roçava na casca do pão, fazia assim: f... f...
        Quando as torradas ficaram prontas, Dona Júlia quis descansar um pouco. Sentou-se na cadeira de balanço e acabou dormindo.
        Os vaga-lumes entraram voando na sala. Sem fazer barulho puseram, no colo da vovó o retrato do neném e a abelhinha. Depois os vaga-lumes foram embora.
        A abelhinha se escondeu numa dobra de saia xadrez de Dona Júlia.
        De repente, a abelhinha viu um caracol encostado no pé da cadeira e começou a pedir baixinho:
        Caracol, bota o chifre de fora. Caracol, bota o chifre de fora.
        E o caracol, nada!
        Será que o meu amigo está zangado?, pensou a abelhinha. Ou quem sabe, ele não me ouviu direito? Talvez esteja dormindo...
        Nisso, o caracol, lá dentro de sua casa, fez assim:c... c...
        A abelhinha ouviu o som que o caracol fazia e ficou um pouco espantada. Agora é que ela não estava entendendo nada.
        Nesse momento, o caracol pôs a cabeça de fora. A abelhinha, muito curiosa, perguntou:
        Foi você que fez o barulhinho que eu ouvi ainda há pouco, amigo caracol?
        Fui eu, sim – respondeu ele muito alegre – Às vezes, eu gosto de falar sozinho...É que tenho esse costume, sabe? Mas... porque é que você me chamou, abelhinha?
        Eu? Ah! Veja só caracol, não é que, com a nossa conversa, me esqueci do que eu queria dizer.
        - Ah! Caracol, você costuma brincar com o neném ?
        - Brinco com ele sim, minha amiga. Mas no outro dia, fiquei muito zangado com o neném. Imagine que ele jogou os óculos da vovó pela janela. Os óculos caíram no chão, lá no quintal.
        E a vovó? – quis logo saber a abelhinha.
        A vovó – respondeu o caracol – pediu à lavadeira que apanhasse os óculos. A lavadeira procurou por todos os cantos do quintal e não achou nada. Os óculos tinham desaparecido. Um verdadeiro mistério.
A abelhinha interrompeu o caracol para dizer: Óculos quebrados da vovó, no quintal... Depois sumiram? Mistério... É isso mesmo! São os óculos que eu encontrei outro dia...
A abelhinha ficou com muita pena da vovó.
Ela chamou, então, três vezes a escova. Na mesma hora a escova apareceu.
        Que é que você quer de mim, abelhinha? – perguntou a escova.
        - Ah! Minha grande amiga! – suspirou a abelhinha. – Você prometeu ajudar os óculos quebrados, não foi? E disse que eles tinham de esperar um pouco. Acontece que esses óculos são da vovó e ela está precisando tanto deles... Se você consertasse os óculos agora mesmo, eu ficaria tão contente...
        Você é de fato uma boa abelhinha! – falou muito satisfeita a escova encantada.- Por isso vou fazer o que você me pediu.
A escova disse três vezes a palavra quadiduvivu. E logo aparecem os óculos de Dona Júlia, já consertados.
        - Obrigada, obrigada! – agradeceu muito feliz a abelhinha.
A abelhinha e o caracol ficaram calados.
De repente, a abelhinha perguntou: Que é aquilo ali, caracol?
        Aquilo? Ah! Ah! Ah! Aquilo... Você não está vendo, abelhinha?
        É que essa zebra é de corda, e só anda fazendo ziguezague – exploicou o caracol. – Vou mostrar a você como é, abelhinha.
O caracol deu um empurrão, de leve na zebra. Ela ainda tinha um pouco de corda e começou a andar em ziguezague, fazendo um barulhinho assim: z... z...
A zebra Ziguezague andou, andou... até a corda acabar.
A abelhinha, que estava olhando para outro brinquedo, perguntou ao caracol: E aquele lá, quem é?
        - Aquele? Aquele é Xaveco, o boneco de molas mais travesso do mundo! Lá no canto do quarto, Xaveco começou a pular, fazendo um som assim: x... x.... Nisso, o caracol avisou à abelhinha: O neném está choramingando. A vovó acaba de acordar.
        - Caracol, veja só como a vovó ajeita os óculos no nariz – falou baixinho a abelhinha.
        Ih! Agora ela começou a rir para o retrato do neném. Repare bem! Ela se levantou caracol! Pra onde será que ela vai?
        Dona Júlia está indo para o quarto do netinho – respondeu o caracol.
Dona Júlia não viu a abelhinha e o caracol, quase pisando nos dois.
        Uf! Que susto eu levei! Reclamou a abelhinha. – É melhor a gente ir para o outro lado da sala. Nada de ficar na passagem, amigo caracol.
É muito perigoso!
Nessa hora, o neném choramingou de novo.
Vovó pôs Xaveco perto dele, na caminha azul e cantou:
- Fique bem quietinho!
Xaveco endiabrado
Deixe o meu netinho
Dormir sossegado.
A abelhinha e o caracol entraram no quarto do neném.
Ele estava dormindo na sua caminha azul.
A abelhinha foi logo perguntando ao caracol:
        - Como é o nome daquilo que está ali?
        - É uma harpa de brinquedo – respondeu o caracol.
        - Para que serve uma harpa? – tornou a perguntar a abelhinha.
-A harpa serve para tocar música, abelhinha! Ela é da família do violão. Só que ela precisa de uma outra amiguinha para toca-la. Sozinha ela não faz som algum.
A abelhinha convidou o caracol para irem até a cozinha.
        - Vamos sim, amiga abelhinha.
        Chegando lá, ouviram um barulhinho estranho.
        - Você está ouvindo isso, amigo caracol?
        - Sim, o que será?
        - Não sei, vamos chegar mais perto.
        - Olha ali, caracol!
        Era o ratinho que comia escondido o queijo da vovó. Toda vez que mordia o queijo fazia um barulhinho assim: q... q...
        Um dia , a abelhinha estava no jardim da casa da Dona Júlia.
        A abelhinha fechou os olhos e começou a pensar: Ah! Como seria bom se as minhas asas tivessem nascido! ... eu iria voar por estas árvores e estas flores.
        Foi ai que a abelhinha ouviu três vezes: quadiduvivu! Pensou logo: a escova mágica está aqui!
        Então a abelhinha resolveu abrir os olhos.
        Nesta hora, ela teve uma grande surpresa. Não é que ela, a abelhinha, estava lá em cima, no galho da árvore? Como é que tinha chegado até ali? Ela não podia voar...
        Justamente nesse momento, a abelhinha ouviu a escova mágica dizer:
        - Você agora, abelhinha, tem o que tanto queria. Mereceu bem esse prêmio. Voe, agora, todo o dia.
        Então a abelhinha entendeu tudo: já tinha quatro asas. Agora podia voar para onde quisesse. A abelhinha quase chorou de alegria.
        A abelhinha estava muito feliz. Ela falava tão alto, fazia tanto barulho, que chamou a atenção do indiozinho e dos óculos. Eles estavam brincando ali perto e vieram depressa.
        Nessa hora, a escova mágica anunciou: Vou dar uma festa de arromba lá em casa. Uma festa que vai durar três dias e três noites.
        O indiozinho quis logo saber:
        - Festa? Por causa de quê?
        A abelhinha achou que devia responder:
        - Por minha causa, indiozinho. Quer ver uma coisa?
        E, muito feliz, a abelhinha começou a voar em volta dos amigos.
        Foi quando o indiozinho gritou: Que maravilha! A abelhinha já pode voar, minha gente!
        A abelhinha, muita prosa, voava, voava sem parar.
        A escova olhou para a abelhinha e pensou: Ela bem que merece essa felicidade, bem que merece...
        O melhor é irmos andando, disse a escova mágica. Temos de preparar a festa: arrumar a casa, fazer os doces, arranjar a música. Vamos precisar de que todos ajudem e... não podemos perder tempo.
        O indiozinho disse logo: Pode contar comigo!...
        Então a escova falou: Vocês querem convidar os outros amigos? E pedir que eles venham também ajudar? Essa festa tem de ser mesmo de arromba. Uma festa como ninguém ainda viu. Uma festa para a abelhinha!
        E a abelhinha gritou:
        - Essa festa é da escova também! Viva a escova!


HISTÓRIA DA ABELHINHA
  
        Era uma vez uma abelhinha que nasceu com uma asa só. Ela não podia voar nem um pouquinho,
por isso, ela vivia suspirando assim: a... a...
        A abelhinha tinha tanta vontade de voar... Se ela pudesse voar, quantas coisas maravilhosas haveria de fazer!
        A abelhinha contava tudo o que pensava a uma escova, amiga dela.
        A escova era mágica, mas a abelhinha não sabia.
        Um dia, a escova encantada disse à abelhinha:
        - Querida abelhinha, você ainda há de ter asas deste lado também. Espere com paciência, minha amiga!
        A escova mágica explicou: Eu sou uma escova mágica. Posso fazer muita coisa boa.
        A abelhinha ficou muito feliz e pensativa. Toda vez que a escova via a abelhinha pensando, dizia com uma voz rouca e misteriosa: e... e...
        Todas as manhãs a abelhinha costumava brincar perto de um mato muito alto.
        Uma vez, ela viu as folhas do mato se mexerem. E, no mesmo instante, escutou um barulhinho assim: i... i... i...
        A abelhinha olhou para um lado, olhou para outro, e nada viu... começou a sentir um pouquinho de medo.
        Nisso saiu do mato um pequeno índio, todo enfeitado de penas.
        A abelhinha, muito espantada perguntou:
        - Foi você quem fez aquele barulhinho, foi?
    - Eu mesmo! Por quê?
        - Porque eu estava com medo. Mas agora já passou. Quer ser meu amigo, indiozinho?
        Sim, falou o pequeno índio.
        Então, os dois combinaram uma porção de brincadeiras.
        Uma tarde, a abelhinha e o índio brincavam no quintal de uma casa grande. A abelhinha viu no chão uma coisa muito esquisita. Olhou... olhou... Nunca tinha visto aquilo.
        A abelhinha resolveu perguntar:
        - Como é o seu nome?
        Mas a tal coisa esquisita só fez um barulhinho assim: “o”... “o”...
        Foi aí que a abelhinha viu que a tal coisa era uns óculos quebrados.
        Com muita pena, ela indagou:
        - O que foi que aconteceu com você, amigo óculos?
        Os óculos não disseram uma palavra.
        Então a abelhinha achou que os óculos estavam precisando de ajuda.
        - Eu vou ajudar você, ouviu? Vou pedir à minha amiga, escova mágica, que conserte você.
        O indiozinho apanhou os óculos e foram juntos até a casa da escova mágica.
        Eles iam andando, quando de repente viram junto de uma árvore surgir um ursinho, que quis fazer logo uma brincadeira com eles. Escondeu-se atrás da árvore e, para assustar os amigos, ele fez assim: u... u...
        Já estava ficando noite.
        Bem – falou a abelhinha – acho que hoje vou dormir aqui mesmo. Posso? E sem esperar resposta, deitou-se no meio dos pêlos da escova encantada. E logo tirou um soninho.
        De repente, a abelhinha acordou e começou a gritar:
        - Socorro! Socorro! Socorro! Por favor, me acudam.
        - Que é que aconteceu com você? – perguntou o ursinho.
        A abelhinha respondeu com voz de choro:
        - A escova mágica está pegando fogo!
        Não é fogo não abelhinha! É um bichinho que tem uma luz... parece até uma lanterninha! Ele também está com medo.
        A escova encantada sacudiu os pêlos, e o bichinho saiu voando.
        - Como é seu nome? – Quis saber a abelhinha.
        O bichinho, muito afobado, só conseguiu fazer um barulhinho assim: v... v...
        E mais uma vez a escova mágica explicou:
        - O som que vocês escutaram, meus amigos, veio dessa flor aí. Qualquer um que sacuda as pétalas dessa dália, pronto: a gente ouve logo esse barulhinho.
        O vaga-lume falou assim:
        - Eu estava voando lá no meio da mata. Nisso me assustei com os olhos de um lobo. Pareciam duas velas acesas andando de um lado para o outro na escuridão da noite. Logo depois escutei um uivo diferente. Quase morri de medo!
        A abelhinha não se conteve e perguntou:
        - E como era esse uivo, heim?
- Não sou capaz de repetir – respondeu o vaga-lume. – Já experimentei muitas vezes, mas não consegui.
        A escova explicou tudo:
        - O lobo caiu numa armadilha. O laço apertou demais o pescoço dele. Por isso o uivo saiu diferente. Vocês querem saber como foi o uivo?
        A escova repetiu três vezes a palavra mágica: “quadiduvivu”.
        Todos escutaram o uivo abafado de um lobo. Era um uivo assim: l... l...
        A abelhinha quis logo saber:
        - E depois, que aconteceu?
        - Tratei de fugir depressa; e acabei perdido no meio da mata.
        - E depois? – perguntou o pequeno índio.
        - Depois continuei voando. Voei, voei... Fiquei tão cansado que caí no chão. E que é que havia de aparecer na minha frente? Uma minhoca! Uma minhoca comprida, muito vagarosa; cheia de requebros, cheia de dengos... Uma simpatia de minhoca! Ela chegou até junto de meu ouvido e começou a fazer um barulhinho engraçado. Eu acho que ela ia me contar algum segredo! Mas não entendi nada. Ah, se eu pudesse descobrir o que a minhoca queria dizer...
        Naquela hora a abelhinha, o pequeno índio e o ursinho olharam para a escova encantada. Ela adivinhou o pensamento de seus amigos e disse de novo, três vezes: “quadiduvivu”.
       Mal acabou de falar a palavra mágica, saiu do chão uma fumacinha muito branca, que foi subindo. Por fim desapareceu no ar.
        E, naquele mesmo lugar, todos viram, de repente, a minhoca aparecer. A minhoca se requebrando toda, começou logo a fazer um som engraçado, assim: m... m...
        Um dia a abelhinha viu lá no céu, uma pipa balançando pra lá, pra cá. Quando o vento batia na pipa com força, ela fazia um barulhinho assim: p... p...
        A abelhinha estava tão distraída ouvindo o barulhinho, que não viu o gato Golias chegar.
        - Abelhinha, que é que você está fazendo? Perguntou o gato, muito curioso.
- Ah, eu estou sonhando, amigo Golias... Sabe com o quê? Com as asas que vou ganhar deste lado. Quando isto acontecer eu poderei... voar! A escova mágica me prometeu ajuda, mas disse que eu tenho que esperar.
O gato, para alegrar a abelhinha, perguntou:
        - Você quer dar um passeio lá onde está a pipa?
        - Quero, sim! – respondeu ela bem depressa.
        Então o gato puxou a pipa. A abelhinha segurou-se nela e a pipa subiu outra vez.
        Golias prendeu a linha da pipa numa pedra e foi tirar uma soneca. Logo depois, o gato roncava fazendo um barulhinho assim: g... g...
        Perto dali, no buraco de um velho tronco, vivia escondido Roque-Roque.
        Roque-Roque era um rato levado. Ele tinha escutado a conversa do gato e da abelhinha, e achou que podia divertir-se à custa do bichano.
        Brincar com a abelhinha não dava, pois ela estava lá no alto, passeando na pipa... Mas o gato Golias estava dormindo logo ali, bem perto. Bastava uma corridinha e pronto!
        Sem fazer barulho, para não acordar o bichano, Roque-Roque saiu do buraco. Deu um puxão na cauda do Golias e quis voltar depressa para casa. Mas não conseguiu. Ficou tão atrapalhado que começou a fazer um barulhinho assim: r... r...
        O gato Golias ainda dormia quando Roque-Roque aproveitou a ocasião para nova brincadeira: deu um peteleco nas orelhas do bichano e fez cócegas no focinho dele.
        Depois procurou um lugar para se esconder. Não queria medir forças com o gato Golias, não! O ratinho não era bobo.
        Escondeu-se atrás de uma pedra e lá ficou muito quietinho. Mas agora Golias estava bem acordado. Golias saiu miando com raiva, querendo descobrir quem tinha mexido com ele. E assim a pipa ficou abandonada, balançando de um lado para outro.
        A força do vento foi aumentando, até que a linha da pipa arrebentou. A pipa, levada pela ventania, acabou ficando presa no alto de uma torre.
        O vento soprava cada vez mais forte! E como batia na torre... E como batia na pipa!
E como sacudia a abelhinha!...
        De vez em quando, por causa da força do vento, a torre parecia que estava fazendo um barulhinho assim: t... t...
        Num dia de sol bem quente, a abelhinha estava com muita sede. Então a abelhinha entrou numa casa e viu, em cima do fogão, um bule. E pensou: Talvez eu ache água para beber nesse bule.
        A abelhinha chegou mais perto. Parecia que o bule estava resmungando.
        Ela ouviu um barulhinho assim: b... b...
        A abelhinha começou a pensar: Ué! Que coisa engraçada! Um bule resmungando... Não pode ser. Bobagem! Com certeza eu é que não ouvi direito. Vou prestar mais atenção.
        A abelhinha olhou de novo para o bule. Aí, ela compreendeu tudo: a água estava fervendo e a tampa do bule é que fazia barulho.
        Água fervendo! Não vou beber, não! Pensou a abelhinha. Vou matar a minha sede em outro lugar.
        A abelhinha bebeu água na pia.
        A abelhinha foi até a janela, olhou para fora e viu, perto da lagoa, um sapo de olhos esbugalhados. O sapo espiava um papel que estava no chão. Depois fechava os olhos, punha a língua de fora, balançava a cabeça devagarinho e fazia assim: s... s...
        A abelhinha não conseguia entender o misterioso sapo, nem por que ele fazia tantas caretas.
        E não foi só a abelhinha que não entendeu as caretas do sapo.
        Um jacaré, que morava na lagoa, achou também o sapo esquisito. E perguntou:
        - Por que é que você olha tanto para esse papel, amigo sapo? Por que sacode a cabeça? Por que é que está fazendo esse barulhinho?
        O sapo fingiu não ter ouvido nada. Há muito tempo ele queria dar uma lição no jacaré, que era muito misterioso.
        Morrendo de curiosidade, o jacaré aproximou-se do sapo.
        Foi aí que o sapo, ligeiro como um raio virou para baixo a folha de papel e perguntou:
        Você já viu esta figura? Na mesma hora o jacaré balançou a cabeça dizendo sim.
        Você viu mesmo, amigo jacaré?
        Um pouco envergonhado por ter falado uma mentira, o jacaré fez apenas um barulhinho assim: j... j...
        O sapo fingiu que não estava reparando na atrapalhação do jacaré. E fazia uma pergunta atrás da outra:
        Você já falou com ele?
        J... Foi só o que o jacaré disse.
        Ah! Agora tenho certeza: você está mentindo! Gritou o sapo com pose de vencedor. – Como você pode ter falado com ele, jacaré, se ele nem sabe falar...
        Rindo muito, mostrou a figura ao mentiroso...
        Aí, o jacaré ficou sem jeito mesmo. Deu uma corrida e tchibum! Mergulhou bem depressa na lagoa.
        O sapo foi embora pulando, todo contente, e deixou o papel no chão.
        A abelhinha resolveu ver de perto a figura que estava no papel. Ela queria saber o que era gordinho, sem dentes e não sabia falar.
        A figura nada mais era do que o retrato de um neném, o netinho de dona Júlia.
        A abelhinha achou que devia levar o retrato para casa da vovó. Mas como o retrato era grande e pesado!
        Sozinha ela não ia agüentar. Pensou em pedir ajuda ao vaga-lume.
        No mesmo instante o vaga-lume apareceu e foi logo ajudar a abelhinha. Chamou mais alguns vaga-lumes para levarem, juntos, o retrato do neném à casa da vovó.
        Quando já iam saindo, a abelhinha reclamou:
        Esperem, esperem! E eu? Vocês se esquecerem de mim? Ou não sabem que eu também quero ir?
        E os vaga-lumes responderam: Você também vai, abelhinha! Suba logo no retrato, pois já está anoitecendo e temos que ir embora.
        Os vaga-lumes voaram pelo céu afora. Voaram... Voaram... De vez em quando, acendiam as lanterninhas para iluminar a escuridão da noite.
        Por fim, chegaram à casa da vovó. Entraram no quarto do neném. Ele brincava sozinho, na cama. Viu os vaga-lumes e gostou das luzinhas deles. Mas como não sabia falar, o neném começou a fazer assim: n... n...
        Os vaga-lumes não compreenderam o que o neném queria dizer.
        Os vaga-lumes foram procurar a vovó, na sala de jantar.
        A vovó estava preparando torradas. Ela cortava as fatias de pão com muita dificuldade, porque a faca estava cega.
        Todas as vezes que a faca roçava na casca do pão, fazia assim: f... f...
        Quando as torradas ficaram prontas, Dona Júlia quis descansar um pouco. Sentou-se na cadeira de balanço e acabou dormindo.
        Os vaga-lumes entraram voando na sala. Sem fazer barulho puseram, no colo da vovó o retrato do neném e a abelhinha. Depois os vaga-lumes foram embora.
        A abelhinha se escondeu numa dobra de saia xadrez de Dona Júlia.
        De repente, a abelhinha viu um caracol encostado no pé da cadeira e começou a pedir baixinho:
        Caracol, bota o chifre de fora. Caracol, bota o chifre de fora.
        E o caracol, nada!
        Será que o meu amigo está zangado?, pensou a abelhinha. Ou quem sabe, ele não me ouviu direito? Talvez esteja dormindo...
        Nisso, o caracol, lá dentro de sua casa, fez assim:c... c...
        A abelhinha ouviu o som que o caracol fazia e ficou um pouco espantada. Agora é que ela não estava entendendo nada.
        Nesse momento, o caracol pôs a cabeça de fora. A abelhinha, muito curiosa, perguntou:
        Foi você que fez o barulhinho que eu ouvi ainda há pouco, amigo caracol?
        Fui eu, sim – respondeu ele muito alegre – Às vezes, eu gosto de falar sozinho...É que tenho esse costume, sabe? Mas... porque é que você me chamou, abelhinha?
        Eu? Ah! Veja só caracol, não é que, com a nossa conversa, me esqueci do que eu queria dizer.
        - Ah! Caracol, você costuma brincar com o neném ?
        - Brinco com ele sim, minha amiga. Mas no outro dia, fiquei muito zangado com o neném. Imagine que ele jogou os óculos da vovó pela janela. Os óculos caíram no chão, lá no quintal.
        E a vovó? – quis logo saber a abelhinha.
        A vovó – respondeu o caracol – pediu à lavadeira que apanhasse os óculos. A lavadeira procurou por todos os cantos do quintal e não achou nada. Os óculos tinham desaparecido. Um verdadeiro mistério.
A abelhinha interrompeu o caracol para dizer: Óculos quebrados da vovó, no quintal... Depois sumiram? Mistério... É isso mesmo! São os óculos que eu encontrei outro dia...
A abelhinha ficou com muita pena da vovó.
Ela chamou, então, três vezes a escova. Na mesma hora a escova apareceu.
        Que é que você quer de mim, abelhinha? – perguntou a escova.
        - Ah! Minha grande amiga! – suspirou a abelhinha. – Você prometeu ajudar os óculos quebrados, não foi? E disse que eles tinham de esperar um pouco. Acontece que esses óculos são da vovó e ela está precisando tanto deles... Se você consertasse os óculos agora mesmo, eu ficaria tão contente...
        Você é de fato uma boa abelhinha! – falou muito satisfeita a escova encantada.- Por isso vou fazer o que você me pediu.
A escova disse três vezes a palavra quadiduvivu. E logo aparecem os óculos de Dona Júlia, já consertados.
        - Obrigada, obrigada! – agradeceu muito feliz a abelhinha.
A abelhinha e o caracol ficaram calados.
De repente, a abelhinha perguntou: Que é aquilo ali, caracol?
        Aquilo? Ah! Ah! Ah! Aquilo... Você não está vendo, abelhinha?
        É que essa zebra é de corda, e só anda fazendo ziguezague – exploicou o caracol. – Vou mostrar a você como é, abelhinha.
O caracol deu um empurrão, de leve na zebra. Ela ainda tinha um pouco de corda e começou a andar em ziguezague, fazendo um barulhinho assim: z... z...
A zebra Ziguezague andou, andou... até a corda acabar.
A abelhinha, que estava olhando para outro brinquedo, perguntou ao caracol: E aquele lá, quem é?
        - Aquele? Aquele é Xaveco, o boneco de molas mais travesso do mundo! Lá no canto do quarto, Xaveco começou a pular, fazendo um som assim: x... x.... Nisso, o caracol avisou à abelhinha: O neném está choramingando. A vovó acaba de acordar.
        - Caracol, veja só como a vovó ajeita os óculos no nariz – falou baixinho a abelhinha.
        Ih! Agora ela começou a rir para o retrato do neném. Repare bem! Ela se levantou caracol! Pra onde será que ela vai?
        Dona Júlia está indo para o quarto do netinho – respondeu o caracol.
Dona Júlia não viu a abelhinha e o caracol, quase pisando nos dois.
        Uf! Que susto eu levei! Reclamou a abelhinha. – É melhor a gente ir para o outro lado da sala. Nada de ficar na passagem, amigo caracol.
É muito perigoso!
Nessa hora, o neném choramingou de novo.
Vovó pôs Xaveco perto dele, na caminha azul e cantou:
- Fique bem quietinho!
Xaveco endiabrado
Deixe o meu netinho
Dormir sossegado.
A abelhinha e o caracol entraram no quarto do neném.
Ele estava dormindo na sua caminha azul.
A abelhinha foi logo perguntando ao caracol:
        - Como é o nome daquilo que está ali?
        - É uma harpa de brinquedo – respondeu o caracol.
        - Para que serve uma harpa? – tornou a perguntar a abelhinha.
-A harpa serve para tocar música, abelhinha! Ela é da família do violão. Só que ela precisa de uma outra amiguinha para toca-la. Sozinha ela não faz som algum.
A abelhinha convidou o caracol para irem até a cozinha.
        - Vamos sim, amiga abelhinha.
        Chegando lá, ouviram um barulhinho estranho.
        - Você está ouvindo isso, amigo caracol?
        - Sim, o que será?
        - Não sei, vamos chegar mais perto.
        - Olha ali, caracol!
        Era o ratinho que comia escondido o queijo da vovó. Toda vez que mordia o queijo fazia um barulhinho assim: q... q...
        Um dia , a abelhinha estava no jardim da casa da Dona Júlia.
        A abelhinha fechou os olhos e começou a pensar: Ah! Como seria bom se as minhas asas tivessem nascido! ... eu iria voar por estas árvores e estas flores.
        Foi ai que a abelhinha ouviu três vezes: quadiduvivu! Pensou logo: a escova mágica está aqui!
        Então a abelhinha resolveu abrir os olhos.
        Nesta hora, ela teve uma grande surpresa. Não é que ela, a abelhinha, estava lá em cima, no galho da árvore? Como é que tinha chegado até ali? Ela não podia voar...
        Justamente nesse momento, a abelhinha ouviu a escova mágica dizer:
        - Você agora, abelhinha, tem o que tanto queria. Mereceu bem esse prêmio. Voe, agora, todo o dia.
        Então a abelhinha entendeu tudo: já tinha quatro asas. Agora podia voar para onde quisesse. A abelhinha quase chorou de alegria.
        A abelhinha estava muito feliz. Ela falava tão alto, fazia tanto barulho, que chamou a atenção do indiozinho e dos óculos. Eles estavam brincando ali perto e vieram depressa.
        Nessa hora, a escova mágica anunciou: Vou dar uma festa de arromba lá em casa. Uma festa que vai durar três dias e três noites.
        O indiozinho quis logo saber:
        - Festa? Por causa de quê?
        A abelhinha achou que devia responder:
        - Por minha causa, indiozinho. Quer ver uma coisa?
        E, muito feliz, a abelhinha começou a voar em volta dos amigos.
        Foi quando o indiozinho gritou: Que maravilha! A abelhinha já pode voar, minha gente!
        A abelhinha, muita prosa, voava, voava sem parar.
        A escova olhou para a abelhinha e pensou: Ela bem que merece essa felicidade, bem que merece...
        O melhor é irmos andando, disse a escova mágica. Temos de preparar a festa: arrumar a casa, fazer os doces, arranjar a música. Vamos precisar de que todos ajudem e... não podemos perder tempo.
        O indiozinho disse logo: Pode contar comigo!...
        Então a escova falou: Vocês querem convidar os outros amigos? E pedir que eles venham também ajudar? Essa festa tem de ser mesmo de arromba. Uma festa como ninguém ainda viu. Uma festa para a abelhinha!
        E a abelhinha gritou:
        - Essa festa é da escova também! Viva a escova!

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